Oi, Renato do passado!

Oi, Renato do passado!

Quanto tempo não nos vimos? Desculpe, esqueci-me completamente de você. Desde a última vez que nos vimos até o momento presente muitas coisas aconteceram: os casamentos (sim, foram três), o nascimento do meu filho, os empregos (troquei alguns), a situação política e algumas decisões erradas que tomei com o mesmo prazer com que tomo cerveja me fizeram esquecer totalmente de você.

Não posso dizer que nosso reencontro foi intencional porque estaria mentindo, redescobri esse blog como por acaso. Estava lendo um blog de um amigo e uma faísca me acendeu no cérebro e então resolvi ver como você estava e para minha surpresa você ainda está aqui, online e praticamente anônimo, o que me não me surpreende já que nunca tracei um objetivo claro para você. Eu só queria escrever sobre meus fantasmas como mensagens em uma garrafa jogadas ao mar por um náufrago.

Gostaria de dizer que a vida foi boa mas estaria mentindo para você, a vida só foi... vida. Num mundo onde todos fazem esforço para mostrar como são espetaculares nas redes sociais eu não consegui me embriagar com isso, ainda continuo preferindo aquelas pessoas que bebem silenciosamente num canto esfumaçado do bar, aquelas que meditam silenciosamente no parapeito das pontes ou viadutos e aquelas que aceitam silenciosamente a indeferença do Universo. Talvez a única grande coisa que fiz na vida foi aprender a apreciar uma bebida sem dar vexame e trocar o cigarro normal pelo eletrônico que dizem que faz menos mal; vai saber, quem se importa, mas agora não tem gente me olhando feio por causa do cheio. Sim, eu sei que faz mal mas o vício é um dos poucos prazeres que tenho na vida, sei que você entende.

Para piorar vivemos tempos sombrios. A extrema-direita dominou boa parte do mundo, pessoas são facilmente enganadas por notícias falsas patrocinadas por gente mal intencionada e impulsionadas por grandes corporações, atravessamos uma epidemia causada por um vírus e agora atravessamos uma causada por um mosquito e a nossa indeferença e agressão ao meio ambiente começa a cobrar a fatura. Estamos batendo cabeça e não sabemos direito para onde ir enquanto tem muita gente se aproveitando disso.

Hoje a internet está nas nossas mãos, todo um mundo de conhecimentos está ao alcance de nossos dedos. É irônico pensar que da última vez que nos vimos tínhamos esperança de um novo mundo onde o conhecimento iluminaria a humanidade mas ao que parece estamos caminhando para uma nova Idade Média. Não sei se vai acontecer enquanto eu estiver vivo mas pelo andar da carruagem pessoas como eu vão estar sendo perseguidas, caladas ou condenadas à fogueira num futuro não muito distante.

Desculpa as minhas palavras pessimistas mas eu nunca fui bom em ter esperança. Descobri que estou depressivo, tomo remédios para continuar suportando o dia-a-dia e tomo remédios para me obrigar a domir a noite. Talvez isso explique toda o pessimismo que tenho em relação a vida.

Por outro lado, devo te contar que a internet é um mundo maravilhoso. Nunca tive acesso a tantos livros, músicas, animações e opiniões de vários lugares
como tenho hoje. Você sabe, sempre fui apaixonado pelas coisas fora do lugar-comum e hoje posso apreciar uma obra que mais ninguém dá bola com uma facilidade nunca antes vista. Talvez compartilhe algumas aqui com você se eu conseguir vencer a inércia e não desistir como de praxe.

Mas foi bom te rever, desculpa não ter muitas novidades para contar mas eu sou como um móbile solto ao vento que não lembra de onde veio. Quem sabe na nossa próxima conversa eu te traga alguma coisa interessante.

Um abraço.

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